



1. Fase de Gesso
O tratamento deve ser iniciado nas primeiras semanas de vida, uma vez que a família já esteja em casa, a mãe tranquila, e a rotina da casa com um recém-nascido já estabelecida.
Preferencialmente, não realizamos o tratamento em crianças abaixo de 2 kg de peso ou que estejam em unidades hospitalares (terapia intensiva), porque o ambiente não é próprio para início do tratamento, e também porque há necessidade de controle minucioso de ganho de peso, podem haver dificuldades no acesso venoso, ou necessidade de fototerapia, e a retirada de gessos e interrupção do tratamento trará perda da correção já obtida.
Iniciar o tratamento no segundo ou terceiro dia de vida geralmente deixa a mãe muito fragilizada, porque ainda está numa condição de baixa dos hormônios após o parto, a criança e a mãe ainda não estão adaptadas com relação à amamentação e ainda não está na ascendente de ganho de peso. Esperar uma ou duas semanas, até a família estar melhor adaptada à nova vida com o recém-nascido, é altamente recomendável e não interfere com a eficácia nem o tempo de tratamento.
A manipulação é indolor, caracterizada mais por um posicionamento do que uma manobra forçada, e o ideal é que a criança esteja tranquila, e com um pouco de fome para que possa mamar durante a colocação do gesso.
O gesso é feito do pé até a raiz da coxa, e nessa localização colocamos um pouco mais de algodão protegido por uma faixa, com o objetivo de evitar assaduras e escoriações pela borda do gesso. A faixa crepe pode ser trocada com frequência se for necessário, mas o algodão deve ser mantido para proteger a pele da raiz da coxa.
Durante o banho, é importante cuidar para não molhar os gessos; a parte inicial do banho, a cabeça, pode ser feita da mesma maneira do que é ensinado na maternidade: com a criança envolta em uma toalha ou outro tecido, lava-se a cabeça, e enxagua-se normalmente; o tórax pode ser lavado com água, mas cuidando para não molhar os gessos nos pés. A parte genital deve ser higienizada com algodão umedecido, porque água corrente irá fatalmente molhar o gesso.
A criança poderá ficar mais irritável ou um pouco mais incomodada após a confecção do gesso principalmente no primeiro dia – o que pode confortar a criança é a secagem completa do gesso com secador de cabelos no modo morno.
É importante verificar a perfusão dos dedos da criança com gesso, ou seja, se a coloração dos dedinhos continua boa, ou seja, rósea. Podemos testar o bom enchimento dos vasos ao pressionar levemente os dedos, observar uma mudança de coloração, e ao soltar observarmos que a cor volta a ficar rósea. No caso de ser observada alteração da cor dos pés, ou mais arroxeada (congestão venosa, ou seja, o sangue não está conseguindo voltar bem ) ou branca (o sangue não está conseguindo chegar ao pé), devemos verificar se a criança não está com frio, ou irritada chorando ( o que pode alterar momentaneamente a coloração do pé), e se essa alteração de cor persistir, contate seu médico. Ele (a) poderá pedir que você envie uma foto dos dedos do pé, ou dar orientações para que ele (a) possa checar a situação pessoalmente. Caso o contato não consiga ser feito, a orientação é retirar o gesso em casa, com água morna e uma tesoura romba. Mesmo que essa retirada do gesso em casa demore, ela é preferível a levar a criança a um pronto socorro, muitas vezes não acostumado com a fina camada de algodão abaixo do gesso.
A cada troca de gessos, a retirada dos mesmos deverá ser feita no mesmo local da confecção dos próximos, para minimizar o tempo sem gessos. A retirada dos gessos em casa está associada a um tempo maior de tratamento, quase o dobro do número de gessos necessários para corrigir os pés, portanto isso deverá ser evitado.
Após a retirada dos gessos, deve-se acessar clinicamente a situação dos pés, e geralmente é feita documentação fotográfica e um score (nota, avaliação) pela classificação de quantificação da deformidade de Pirani. Geralmente pode-se banhar o bebe, e assim ele estará melhor relaxado para o próximo gesso.
A posição dos pés é mudada a cada manipulação e aplicação de gessos, passando da posição para dentro e para baixo para reta, e depois em abdução, ou seja, virada para fora. Esse alongamento extra até 70 graus de abertura objetiva alongar a parte interna do pé e da coxa, e é necessária para a manutenção da correção dos pés. Os pacientes não ficarão com deformidade em rotação externa dos tornozelos pela manipulação.